terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Sobre essa nova senhora que me observa.

Monalisa
Nem sei se me perdoa, reverencia ou abençoa
Frida potencializada pelos espessos graus dos óculos
Enxergam arte no ofício do passar da noite
Calcutá de coração xinga, blasfema as idéias sugeridas pelas sombras da lua clara
Avó convicta permite a liberdade da poesia onde mora
Mulher firme zela pela provinciana companhia a esposa adormecida
Coração eterno pulsante expele seu cheiro
De flor e concreto
E o retrato lembrança de passado capturado e paralizado
Aconselham o expectador encantado pelo resto de vida
Que respira na moldura
Ela fala
E ele ouve com atenção esfomeada
Os dircusos que o olhar mimicamente reproduz
Vai seguir a mais doce das ordens
O sono vai fazer tudo valer a pena
Sob cada luz desta calle
Sobre cada metro
Desse cenário argentino
Fantasmas bohêmios
Deslizam como a correnteza do Plata
Espíritos vivos se espalham na calçada
Nos bosques de Palermo
Há milhares de corpos
Deitados
Lúcidos
Falam um castelhano alto e sorriem
Meus olhos máquinas fotográficas
Fincam os slides em minha vida
E tudo que vai passando
Vai também ficando
Como a chuva do terceiro andar da Godoy Cruz
E os violões de santelmo
Até o céu portenho foi cruzado
O sol da bandeira se arreou pela manhã
E deixou uma alma obesa de emoção

terça-feira, 11 de outubro de 2011

olhem para cima
o céu aberto
sem cerca elétrica ou arame farpado
pra quem quiser
é só ir

sábado, 1 de outubro de 2011

Rotina

E o tempo é infinito ou regressivo? O próprio Universo, eterno? Como se tudo sempre houvesse existido e voltasse sempre a existir. Num ciclo incansavelmente repetido, ou recriado. O grande segredo, a maior curiosidade é o tamanho do ciclo. Quantos Cristos devem ter existido? Desde que manhã abro os olhos pra viver o "novo dia", pra perceber as "novidades" que surgem? Me levanto sem razão, ou pra participar ativamente da construção deste ciclo? Deus é um relógio no pulso, um calendário na parede? As vezes penso que chego atrasado. Que pra cada hora que "envelheço" mil crianças nascem. Serei pretencioso em me colocar como referência de algum tempo? Qual o tamanho disso tudo? O segundo? O dia? Qual objetivo e sentido do tempo? Nos mostrar o máximo possível ou nos condenar a morte? Divino, maquiavélico? De fato o tempo transforma tudo em perecível, o seu corpo, os corpos dos prédios, as luzes, a melhor memória, a pior notícia, o sofrimento e a felicidade.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Sutileza

um corpo...
tão leve corpo
sopro...

sábado, 30 de abril de 2011

mais um texto pra minha mulher



Chuva caída sobe mim
Meu outro lado
Infinito
De te querer mais e mais
O amor
Que mora e dorme no nosso quarto
No teu braço que me procura e alcança
Que dança música em meu peito
E exala cheiro de poesia pelos cantos

segunda-feira, 7 de março de 2011

Bandeira.

Há um pouco de Belém em mim.
Um pouco de Moscou
Madri
Havana
De São Paulo
Paris
Santiago
Tókio
Pouco de Amsterdã
Caracas
Maputo
Lisboa
De Vaticano
De Sodoma
E de Gomôrra.

sábado, 5 de março de 2011

Fotografia.

Passou horas em cima daquela fotografia. A árvore ali parada, sendo movimentada, mexida e devassada por um vento também parado, o fez pensar sobre tudo. Em tudo de simples e mágico que acontece todos os dias. Pensou em pessoas, trânsito, teatro, em sua própria vida, no funcionamento do mundo. Filosofou sobre a origem do universo, religião e tantas outras esquisitices, lembrou de várias paisagens, sentiu um verdadeiro de jávou de sentimentos e fez considerações sobre o tempo, ciência, literatura e beleza. O que ele queria, na verdade, era tirar o cheiro, o feitiço e a alma daquela foto, mas só saía silêncio.

Belém Final Mente.

Quando a cidade já deitada,
Louca pra amanhecer,
Experimenta seu sonho mais calmo,
Seu repouso mais belo,
Assiste às copas das mangueiras moverem-se
E as janelas respirando a cidade
Como se fossem suas últimas células vivas
Como se fossem réstias urbem
Garantindo, mesmo que preguiçosamente, sua pulsação
E Belém nesse momento,
No seu sonho mais louco,
Mesmo quase morta, já sem força e movimento
Sente seu corpo vivo, na beira dum rio
Balbuciar sua mais secreta verdade
Para que o vento espalhe sua notícia
Pra flor mais importante de seu jardim floresta,
A rosa dos ventos

Mesma coisa.

Tudo calmo outra vez
A não ser o vento
As luzes, a chuva
A não ser eu.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Minha Mulher

Entre todos os prédios
Está ali você
Maravilha cotidiana
Agora finalmente quieta
Mentalmente te vejo, te provoco e te desejo
Como sempre desejo
E mesmo com o mundo todo girando
Te manténs parada, quase em silêncio
Não fosse tudo que saia de ti
Na tua respiração subsistente, no teu pensar pleno
Ou no privilégio do carinho
Que me faz explodir e propagar
Nas direções do mundo
Que me fez querer parar e ficar ali
Para todo o resto da minha vida
Mesmo nos dias que amanhece de mau jeito
Ou naqueles que só te vejo passando
É como uma estátua maravilhosa
Capaz de mover-se
De mudar o rumo das coisas
Quando se mostra mais mulher que tudo
O amor respira e vive
Teus olhos sempre fazem minha alma sorrir
E quando tuas mãos me tocam, eu canto.

Apartamento

Olha as paredes infestadas de janelas
Em cada uma delas há uma garota em silêncio
Um jeans secando
Uma louça suja na pia
Uma flor espalhando seu astral radioativo
Alguém pensando sobre tudo
Uma tristeza que pousa sobre a cama e sonha sempre que deita
Um caderno,
um café
um talher,
e uma vida inteira de alguém.