quarta-feira, 11 de novembro de 2009

ouça

Até os ventos estão à deriva,
As cidades,
Os verbos,
as bandeiras,
os futuros carregados de destinos,
as músicas e os pensamentos,
Todos os segundos do tempo,
Os vestidos e as louças,
textos e paredes,
os barcos estão à deriva.
os andares, as direções,
Todo céu do mundo,
fotografias,
estrelas e notícias,
famílias, perigos,
Cada ferida e cada solidão,
Todos os aviões estão à deriva.
esmaltes e dinheiro,
o chão,
a infância,
os ciganos,
os feitiços,
Todo amor estará também à deriva.

reciclo

Curo um vício no outro
Além das paisagens indesligáveis que me aparecem
Toco o coração de todas as coisas
O céu que circula tudo
As vezes só muda de cor
Só se compara à imaginação
De cada alma que existe em todas coisas
E de todo amor que está em qualquer poeira
E aos anos que se passam como páginas, como música
Como tuas unhas pintadas ou então como teu sonho
E se a fotografia ainda estiver lá?
E se eu estiver lá?
Ou mesmo que a pobreza de cada canto do mundo
Apareça viva por lá
Já terei fugido do teu segundo olho
E com certeza já terei corrido como o desespero
Mas depois do ponto final, da última camada do teu verso
Ressurjo como o refrão
Ressurjo mesmo é como aquela manhã.

o lar

Está tudo aí
A mesa das refeições
As cortinas das janelas
Os tantos livros
Os tantos sonhos
O espelho testemunha das felicidades
A cama de todas as vontades
Todas as roupas que usamos
Alguns objetos que nunca tocamos
E alguns restos de barulhos velhos
De gargalhadas antigas
Eis aí também uma mulher e um homem
A distância sideral entre uma mulher e um homem
E no meio disso
Um poeta estragando tudo.

janela

Tudo tão calado.
As paredes.
Os móveis.
Até as portas.
Tudo quieto.
Recorro, como último socorro, à janela.
Tão grata a surpresa.
O mundo se derrama da janela do apartamento.

cio perfume

Te entrega com vontade à putaria. Beba em copos lustrosos seus orgasmos.
Trepa como respira. Seja a mesma até o fim.
Prova a felicidade infantil do gozo. Foda, foda a vontade.
Oferece mesmo aos fracos, teu gozo brilhoso. Dedica-te a causas nobres
E distribui tua boceta aos esfomeados. Perca as contas
Impreguina o mundo com teu cheiro. Sinta o raso vôo vago da liberdade.
Doce serena putana. Não enrouqueça seu riso. E te distrai em parceiros
Astuta manipuladora de picas.Sorria e te mostra. Como você é
Um dilúvio de ternura. Suruba tuas personalidades.
E orgulhe-se de si. De ser ser-humano e flor confusa
De ser tímida permitida. De não esquecer
O amor que o carnaval sempre tem. Bruxa bailarina nua
Que sem cerimônia, mas com lirismo, chupa tudo até o fim
E rir de ver a pele brilhosa. Depois,
Conversa e fuma. Definha-se totalmente em caldo escorrido
Afinal, orgasmo é suicídio.